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28 junho, 2007

Trip


Sentei, num dia nada cálido. Conhaque. Música deprê com bastante gelo acompanhando a viagem pelo interior. Parei em pequenas estações – rodoviárias? – de vias plurais. Pensei no óbvio, no contra, no acaso e o que não se pensa, catatônico?, foi assim...

Uns zumbidos, umas cores, sons e sem odor. O que dizer do homem que não sente os odores? Tentei lembrar o último pensamento e resolvi escrever, mas o que? Começar pela primeira pessoa não foi o ideal, mas e se fosse?

A primeira linha, certamente, se em condições criativas, começaria com um verbo. E se na tentativa mudasse o tempo – relógios não o acompanhavam.

E mudou o tempo como se mudasse de qualquer coisa, por mais banal que fosse. Pensou em (vírgula ou dois pontos?) como muda de roupas. Mas seria essa a construção do óbvio, do clichê.

Continuou. Esqueceu-se do que havia se predestinado. E com todas as vulnerabilidades mórficas, sintáticas, ortográficas e gramaticais insistiu! Foram minutos quando se viu interrompido!

A presença do outro é sempre um bloqueio: primeiro, pela quebra do pensamento e do silêncio da casa vazia – um choque! Acordes... notas... samplers... vozes... dão continuidade à interrupção.

E se a viagem acabar? Afinal de contas é a última música. Se a condição – se, se, se, se – permite a depressão, quem trocará o CD? O deprimido? O estranho?

Mas...

Pensou que era louco, como se não bastasse. Involuntariamente hard. Um hard rock dá lugar ao indie, ao “indi”. Terá ele a certeza de estar escrevendo um diário? Quando ele se sentou? Provavelmente não.

Mas os tempos mudam. Ou ele muda o tempo? Pensou em como poderia não ter sido, mas mudou.

Uma quebra de raciocínio, uma seqüência irracional – onde está a lógica tão cabível nos momentos de sobriedade? Perguntou-se como poderia estar acontecendo tal (tal o quê)/ entre tantos porém – de pensamentos quando chegam as outras pessoa. Parou e não sabe se vai voltar. A inspiração. Essa lhe faltou? E a determinação. E a embriagues? Ou o quê? Os movimentos, novamente os movimentos, novamente o tempo, o tempo agora é outro. Mudou a música, clássico rocker, clássico viagem pelo interior, clássico maníaco depressivo, lisérgico das décadas anteriores.

E lembradaspessoascomopassardosmaisqueminúsculostempos. Pessoas certamente são a evolução, ou revolução de tudo. Pensou em listar, todas elas. E a ordem de importância. Todas eram, só variavam os níveis, mas o tempo, esse, independente de qualquer intempérie, sempre voltava, e voltava sem tempo, talvez porque eu p teria perdido.

Na balburdia, nas esbórnia, no escarcéu (eu sempre quis juntar essas três palavras e nunca tive êxito) desse tempo é que retorna ao conteúdo.

Quizás alguém descubra tal talento – seria isso mesmo? – pensava, e fazia isso tão obviamente autobiográfico – me reconhecerão mesmo que postumamente? Uma dúvida eterna, uma dádiva. Tudo por uma noite de entorpecentes. Seria verdade? Seria real? Creiamos que não (não entremos na qualidade de crônica!?).

Fragmentos, ah! Fragmentos. Lembrou enquanto escrevia ‘fragmentos’ que encontrou uma da família Fraga; desde sua infância não a via, e era linda apesar de sua agudez gritante contra a dele - surpreso, percebeu que ela se desmistificara, era agora apenas um rosto; perdeu-se dela a ingenuidade e beleza matutas. De repente, matuta e linda mas corrompida pelo capital, pela letra e pela luxúria.

Autobiográfico. Velho. Era isso. Estava velho. Fragmentou, na condição de tempo, a sua vida. Quebrados. Espaços que caberiam poesia, se desta não tivesse enjoado. As dores do mundo! Teriam lhe afetado? Saberia quem... ninguém saberia.

Fragmentos, ah! os fragmentos!

Constituição, era isso, a reconstituição do que deveria, ou era, ou se tornava, ou estava se tornando, ou tantos outros ‘ous’, ser reformatado. Pensou na razão e na razão de ter usado a palavra ‘reformatado’. Pois onde se encontrava no tempo, no seu tempo, o tempo?

Levava essa discussão consigo psicofisicamente. Tempo verbal, tempo modal, tempo de amar e tantos outros tempos – quais deles escolher? quais deles se envolver? quais deles ser realmente o verdadeiro tempo?

Angustiado com as condições, conectivos, aditivos e justificativas, se esquecia do próprio texto – o simples, sem firulas. Quando pensou ter acabado – tinha apenas começado – percebeu o quanto se charfundara, atolava, metia-se, envolvia-se num mundo de insanidades saudáveis e inaceitáveis como as grandes paroxítonas e proparoxítonas da corrente oração (ordinada, subordinada, ordinária?).

Realmente o tempo me controlava e advertia: onde está Guimarães Rosa ou de Melo Neto? Respondia um silencia... e quando tornou-se som – desafinado.

O tempo! o tempo!

Uma linha! uma seqüência de pensamentos – atemporal, imoral, imortal – desavisados. “This is the end, my only friend, the end”. Morisson me convidou ao caos e lá…

Num tempo, numa meia sola de tempo, se metamorfoseou, como uma borboleta.

Repetiu, como costumeiro, a palavra indubitavelmente. E indubitavelmente.

garota


Esquadrinhava uma
garota,
ela
tinha batom e um
gato preto.
______________
a
cada
hora,
uma
garota.
______________
ela não
tem mais batom!

O gerúndio longínquo


Pensou num gerúndio longínquo naquele momento de vida. Transcorria seus valores e comportamentos numa trilha sem destino. Era rápida e lenta; oscilava nesse momento de retardo e ligeiro, mas o gerúndio incongruia nesses intervalos. E inconguia... vagando... divagando... pensando...bufando qualquer tolice; dançando qualquer valsa, balançando qualquer movimento. Andando... caminhando qualquer caminho. Incongruindo.

Incongruindo do que?

Tragou seu primeiro e guloso e fumegante gole de café. Diluiu suas primeiras reflexões do dia, que sempre vinha acompanhada de mau-humor, nessa pausa longa. A essa altura a dor de cabeça era menor e também o seu dispor com o próximo. Seria aceitável um sorriso de canto de boca.

Duas! Já era a quarta ou quinta. Seis! meia garrafa de café.

Eram dois... eram dois... tudo vinha em par! O café e o copo. O sol e o dia. A mão e sua símea. O abre e fecha. Tudo vinha em par, tudo! Tudo vinha em par senão o seu par.

Seu par era soberana. Atravessava a rua e tinha medo do sol. Parava. Não ela. Ela parava o sol. Ela descia o sol à sua cama e brilhava, ofuscando-o. Era dia e ela era o sol. Ela era Deus mandando que o sol se assentasse.

Ele olhou a rua e a menina soberana que a atravessava.

E só olhou. E queria o próximo dia, quando ela se cansasse e o sol dormisse. Era cedo. Era tarde? Ela passou. E ele se passou.

Acordou. Pausou num gerúndio duradouro. Não tinha café nem o seu forçado e cínico sorriso de canto de boca. Foi ver a rua e soberana a menina ordenava que o sol descesse e seu coração parasse. Não tinha café nem menina.

Agora era noite e tentava achar o sol que desceu corando a maçã alvíssima e sardenta num gole tragoso de conhaque. Não encontrava o brilho nem a graça enleante. Não encontrava os pontos escuros, porém luminosos, nem a seda negra transfigurada cabelo, nem um olhar cativo de jaboticaba, nem um sibilado, nem uma curva sinuosa, nem um som agudo e quebradiço de menina sorrindo sua graça.

Eram dois! Três, cinco... meia garrafa de conhaque. Envelheceu sua beleza no torpor. Marcou no seu rosto linhas decaídas. Marcou como se ele fosse o cinderelo aguardando sua princesa chegar cavalgando e galgando seu amor num grande e robusto cavalo branco de conto de fadas. Um cinderelo ao avesso. Um cinderelo sem sua graça e traje de gala. Um cinderelo sem sua torre – enclausurado nas entranhas de sua masmorra.

Parou num gerúndio longo... mas tudo vinha em par – agora por efeito borracho. Dois copos. Dois cinzeiros. Dois cigarros soltando suas lufadas bem tragadas. Dois garçons esperando as duas próximas doses. Tudo vinha em par, senão o seu par.

Um gerúndio longo e mais café. E a menina continuava arrebatando o sol. Um gerúndio longo e café, e café, e café. Cansado do café foi a rua olhar sua menina atravessa-la e imperativamente fazer o sol descer à sua cama. Mas vieram as nuvens que fizeram gotejar pingos pesados e molhados sobra a seda negra e curta. A seda amarrotada e ensopada que balouçava num movimento tardio e fragmentado, formando linhas curvilíneas e montanhas contra o desenho da chuva que caía densa em seus tons de cinza e azul-royal. Corria desenhando tais formas, corria em busca de abrigo. E se estivesse na condição de guarda, estaria lá, estendido com seu guarda-chuva, esperando a menina e esperando a chuva passar. A chuva não passava e passava a menina. Quanto quis que seus braços se abrissem numa grande copa protetora, mas seu estilo cinderelo obrigou-o a se sentar na escadaria, de pé estendido esperando seu sapato. Sua menina e sua seda não vieram mais uma vez.

Pausou num gerúndio longo. E não veio o café. O mau-humor. Nem a menina descendo o sol à sua cama.

(Sô)frego

Há quem sofra para me entender
Há quem sofra por me entender
Há quem sofra por sofrer
Há quem me entenda sem sofrer
Há quem me entenda por sofrer
Há quem sofra por sofrer
Há quem me sofra sem poder
Há quem me sofra por poder
Há quem sofra o poder
Há quem possa o sofrer
Sofrer por poder... apenas sofrer.

Pretérito mais-que-imperfeito

Vivi o presente mais que perfeito (viu?)
Tú, anunciando a primeira estrela da manhã
sorrindo elegantemente teu brilho dourado
lambendo lânguidamente o ar da minha alma
beijando docemente o mel dos meus desejos
suprindo qualquer sonho, senão o teu
desmoronando os muros de pedra e
descobrindo meias dúzias de onze-horas
minha estrela do presente mais
que perfeito
você murchou o púrpura do meu correr
e afundou minh'alma num barril de cachaça
meu tão ex-amor
você soprou o vento ruim e se
acabou com os meus tragos drogados
anunciando a primeira estrela da noite
tão fria, bêbada e lamuriante
meu tão ex-amor
tú virou o pretério mais-que-imperfeito.

Bang, bang!

só acaba quando acabar
porque viver não é cena de cinema
nem romance barato de prateleira
só acaba quando acabar
e depois do fim

o teu nome de estrela subindo nos créditos
e teu amor para o meu impresso num prólogo
mas a vida não é cinema
e não vão ler nós dois na próxima página virada

cansei de ser mocinho sem donzela
quero renascer herói no episódio 2
só acaba quando acabar

"Crave" de Sol

Tentar chorar é ceder à tua dor
e fingir o não é tê-la longe de mim;
as lágrimas me lambem os olhos
e lavam minh'alma em busca da tua,
ansiando qualque sopro ou notícia teus.
Me fecho no tempo
e viajo num instante eterno
de noites insones.
Mas você é só um prelúdio sem fim,
me deixa sonhar... e só sonhar.

Destinos

E o menino desce a rua
a água desce a rua
a própria rua desce em si
desce em si mesma
desce para lembrar
que já a desceu
e que não pode voltar

Chilreia

Duas frentes e um olhar -
gêmeo.
Duas core e um corpo -
nú.
Ela em branco, eu
em negro;
ela chamuscada -
em negro - de mim;
meus olhos lavados -
do branco - dela.
Um passáro cantou!

26 junho, 2007

Talvez. Talvez? Talvez!

Bem! eu acho... (pensou num dos seus intervalos de talvez). Mas como estar bem numa condição desconhecida? Não ter certeza dos seus sentimentos era concebido como regra. E assim, continuou sua divagação, embora conversação, com a dona que se precipitava na mesma confusão. Lembrou que numa dessas passagens zapeadas pela tv, ouviu dizer da dependência química do estado de espírito.

Fragmentado. Pensava assim as suas idéias, as palavras e os sentimentos, outrora pueril e romântico, hoje: urbano, rápido e vulgar.

Maduro?

Ela disse que passava para vê-lo. Ele nem notou e esqueceu de mais alguns dos seus compromissos. Um casal de amigos lhe trouxe um presente. Tentou se entorpecer dele, mas já não lhe provocava a mesma sensação de antes, não se permitia, talvez - senão a boca que secava e amargava. Viajou numa trilha amorronzada e amarrotada de formigas (sempre o fazia) - com ou sem seus tragos queimados. Ressecou-lhe a garganta e mais uma vez a sensação de estar nos intervalos de talvez.

Talvez. Talvez? Talvez fosse desconhecido por ele. Voltou ao seu encontro despropositado - nenhum dos que assumira ou tivesse tentado fazê-lo. Seu casal(?) de amigos conversava, bebiam na sala alta enquanto cá, na antecessora, ele escutava qualquer coisa de rock clássico. Estava vazia, poucos móveis; meia-luz, débil; umas pontas de cigarro, outras não; meia taça de vinho, engordurada; sapatos, poeira e a trilha de formigas tracejando seu caminho com sua carga indecifravel.

Viu emoldurada a arte de sua nova tempestade platônica. Estou bem? Eu acho... agora mais desconfiado do que antes. E tragou goles rápidos e volumosos do seu vinho engordurado. Precisava encher seu copo. E a garrafa estava vazia. E o casal(?) na sala alta? Foi e não se demorou e da boca feminina da sala alta, ouviu: profundo! Pensou, pois só pensava enquanto esvaziava a alma e embriagava o corpo, num motivo sexual, depois na sua natureza humana.

Surpreendeu-se com sua capacidade veloz de raciocínio para as suas "intressências". Pro resto, era lento e disperso, como não se incomodasse com a vulgaridade simplória do tempo alheio nem de um tempo imposto.

Ouviu tês tiros e imaginou: estou bem? acho que sim... mas alguém não está. Tropeçou na idéia de ser o outro ele, não o igual ao do momento, mas o outro ele. Seria o outro ele lírico? o outro ele poético? ou o outro ele imaturo e inconsequente?

O ele de agora se negou a admitir sua outra parte, a sua parte disperdiçada.

A pintura, indefinida no espaço, e o outro casal (?) continuavam no seu tempo. O ele, e o outro ele, não!

No dia em que a sintaxe não concordou

No dia em que a sintaxe não concordou. Ela acordou dislexa, trocando umas palavras tolas. Ela não sabia mais quem era e se confundia com a sua já majestada amiga comum. Tinham tanta concordância! mas agora se embaralhavam em alguns equívocos e desatinos. Não mais se reconheciam, talvez a dúvida ou um bloqueio de sinapses. Pra onde elas foram e que rumo tomaram? Será que seguirão o mesmo rio? E se diferentes, oxalá desaguem no mesmo mar, ao menos de prosa, primosa, formosa 'sintaxidade' novamente.
Volta sintaxe, desenrola, concorda. Pega essa tua forma. Forma, forma!

21 junho, 2007

Café


E na ansiedade de provar do melhor sabor, esperou toda uma safra; até que as minúsculas frutas alcançassem o bordô mais intenso e se transformassem, depois, num volumoso conteúdo preto-amarronzado. Esperou esse momento, da fruta ao volume, do volume ao sabor; esperou para segurar sua xícara fumegante, evaporando suas fumaças rodopiantes, até a iminência do primeiro gole. Salivaria gotinhas quentes e saborosas como forma de amor.

11 junho, 2007

Cartaria

Toda carta deveria ser logo postada. Será que elas chegam às quartas? E o pior de tudo é que as quartas nunca chegam; se chegam, encontro empoeirada minha caixa metalizada recebedora de notícias. Mandei dizer para uma moça que não avissasse sobre elas, mas a minha ansiedade atropela qualquer carta em qualquer desses dias de meio-de-semana.

Um dia escrevi cartas, elas eram longas e em papéis azuis, eram tão mórficas! na sua concepção! Ainda as continuo escrevendo... mas elas nem chegam ao papel, são tão imaginárias, agora nos seus montes verde-azulados. Prefiro esperar! Todos esses dias.

Canso de esperar as moças ou moços em uniforme azul e amarelo tão bandeiroso de nossa pátria, trazendo ouros e céus. Eles vêm em zigue-zague entre os números da rua. Espero alcançarem o 77, mas param no 71. Seguem duas casas abandonadas, e a 75 só recebe correspondências no fim de cada mês - acredito que as contas. Aí, eles se vão...

Toda postagem deveria ser anunciada como de propósito. Será?

Eu espero.

Sempre quis ser carteiro.